Fala Vet, tudo bem?  

Nesse artigo iremos abordar o equilíbrio hídrico entre os compartimentos corporais e quais as forças responsáveis por mantê-lo. Vamos começar? 

 

Quantidade de Água Corpórea e sua Distribuição

O corpo de um cão ou gato adulto é composto por aproximadamente 60% de água. Destes, cerca de 40% está no compartimento intracelular e 20% no extracelular. Por sua vez, o meio extracelular é dividido em componentes intersticial, intravascular e transcelular. 

O componente intersticial é o fluido que circunda as células e que permite a troca de íons, proteínas e nutrientes pelas membranas celulares. Ele compreende 75% do total de fluido extracelular e é continuamente renovado e recoletado pelos vasos linfáticos. 

Por sua vez, o componente intravascular compreende cerca de 25% dos fluidos extracelulares. Ele é estimado em 5% do peso vivo do animal, mas pode variar de 6 a 7% em gatos e de 8 a 9% em cães.   

O último compartimento, o transcelular, é composto pelos fluidos produzidos por células especializadas. Portanto, fazem parte desse compartimento o líquor, secreções gastrointestinais, bile, secreções de glândulas, do trato respiratório, da pleura e do peritônio, e o líquido sinovial. A soma de todos eles está estimada em 1% do peso vivo do animal. 

 

Diferença de Solutos Intra e Extracelulares

Um ponto importante a ser notado é que há pouca diferença na concentração iônica entre o fluido plasmático e o intersticial. Porém, isso não ocorre quando estamos falando da diferença entre os solutos intra e extracelulares, pois, diferentemente do endotélio, a membrana plasmática é mais seletiva. 

E essa diferença entre os solutos dos dois compartimentos é importante para o desempenho das funções intracelulares. Assim, temos a tabela a seguir demonstrando a diferença dos solutos nesses dois meios: 

Tabela mostrando a diferença entre os solutos intra e extracelulares.

Tabela 1. Tabela mostrando a diferença entre os solutos intra e extracelulares. Fonte: adaptação de WELLMAN, M.L.; DIBARTOLA, S.P. & KOHN, C.W. Applied Physiology of Body Fluids in Dogs and Cats, 2006.

 

Troca de Água entre os Meios Intra e Extracelulares

Os meios intra e extracelulares são separados pela membrana plasmática que é semipermeável, ou seja, impermeável aos solutos e permeável à água. Os solutos têm a capacidade de atrair água e são trocados entre esses compartimentos por transporte ativo, passivo ou facilitado. 

Assim, a movimentação ou troca dessas partículas entre os dois compartimentos é responsável pela troca de água entre eles, por um processo que denominamos de osmose (figura 1). Dentre as partículas osmoticamente ativas podemos destacar: Na, K, Cl, bicarbonato, ureia, glicose e proteínas. 

Figura ilustrando o processo de osmose.

Figura 1. Desenho ilustrando a diferença entre uma membrana impermeável (A) e outra semipermeável (B). Na segunda ocorre um processo denominado osmose, no qual há a passagem de água do meio menos concentrado de solutos para o mais concentrado. Fonte: arquivo Surgery4Vets.

 

A osmolaridade, ou concentração de solutos, do plasma dos cães é de aproximadamente 300 mOsm/kg. Assim, temos: 

  • Fluidos com osmolaridade maior que 300 mOsm/kg: soluções hipertônicas ao plasma; 
  • Fluidos com osmolaridade igual a 300 mOsm/kg: soluções isotônicas ao plasma;
  • Fluidos com osmolaridade menor que 300 mOsm/kg: soluções hipotônicas ao plasma.  

Portanto, quando temos compartimentos com osmolaridades diferentes, sempre a água irá se movimentar do meio menos concentrado para o mais, com o objetivo de equilibrá-los. Isso significa que, se houver perda de solutos ou ganho de água pura extracelulares, ocorrerá a movimentação de água do meio extra para o intracelular. Assim como, se houver aumento de solutos extracelulares em concentração maior que a do plasma, haverá movimentação de água do meio intra para o extracelular.  

 

Troca de Água entre o Plasma e o Interstício: as Forças de Starling

A movimentação da água entre os compartimentos, juntamente com alguns solutos, é importante para que ocorra a troca contínua de oxigênio, gás carbônico, nutrientes e metabólitos, entre outros. E, agora que vocês viram como essa troca ocorra entre os meios extra e intracelular anteriormente, iremos abordar a movimentação da água entre o plasma e o interstício.  

A troca de água entre esses compartimentos ocorre a nível capilar e só é possível devido às Forças de Starling, como demonstrado na figura 2. 

Desenho mostrando as forças de Starling, responsáveis pela movimentação de fluidos entre compartimentos.

Figura 2. Desenho mostrando as forças de Starling, responsáveis pela movimentação de fluidos entre compartimentos. Mais detalhes a seguir. Fonte: arquivo Surgery4Vets.

 

Assim, temos: 

  • Pressão hidrostática capilar: é a força exercida pelo fluido sanguíneo na parede vascular interna; 
  • Pressão hidrostática intersticial: é a força exercida pelo fluido intersticial na parede vascular externa; 
  • Pressão oncótica capilar: é a força osmótica gerada pelas proteínas presentes no plasma;
  • Pressão oncótica intersticial: é a força osmótica gerada pelas proteínas do interstício. 

 

Com isso, temos que a força resultante entre as que favorecem a filtração através do endotélio vascular para o espaço intersticial (pressão hidrostática capilar e pressão oncótica intersticial) e as que tendem a reter a água dentro do vaso (pressão oncótica plasmática e pressão hidrostática intersticial) é que determina o sentido do fluxo hídrico, de modo geral. 

Vale ressaltar que a pressão hidrostática capilar tende a reduzir ao longo do capilar e a pressão oncótica capilar tende a permanecer constante. Desse modo, no término proximal (arteríola) ocorre saída de fluido do vaso para o interstício e na vênula há recaptação parcial. O restante do que foi filtrado é captado pelos vasos linfáticos no interstício. 

 

Desidratação X Hipovolemia

Antes de discutirmos a diferença entre a desidratação e hipovolemia e suas aplicações clínicas, devemos definir o que é hidratação e o que é volemia: 

  • Hidratação: está relacionada com a quantidade de fluido intersticial. Assim, é determinada por turgor cutâneo, umidade de membranas mucosas e enoftalmia; 
  • Volume: está relacionado com a quantidade de fluido intravascular e está relacionado com a perfusão tecidual. Com isso, pode ser avaliado por meio da frequência cardíaca, TPC (tempo de preenchimento capilar), coloração de mucosa e pressão arterial. 

 

Portanto, temos que animais desidratados tendem a ter um turgor cutâneo com tempo aumentado, mucosas ressecadas e enoftalmia. Já os hipovolêmicos podem ter um TPC prolongado, mucosas pálidas, hipotensão, taquicardia (cães) ou bradicardia (gatos e cães em estado mais grave) e, em casos mais severos, depressão do estado mental. Porém, um quadro pode ou não ocorrer concomitantemente ao outro. 

Por ter consequências mais severas, a hipovolemia deve ser tratada antes da desidratação. Assim, a primeira deve ser corrigida dentro de 01 a 02 horas, o que requer infusão intravenosa rápida. Por sua vez, a desidratação pode ser corrigida em 24 horas. 

 

 

Agora chegou a hora de testar o seu conhecimento sobre o assunto. Clique aqui e participe de nosso quiz (ele não tem caráter avaliativo, serve apenas para que você fixe ainda mais o aprendizado). 

Fala Vet, a compreensão do equilíbrio hídrico e as forças que atuam nele é fundamental para a realização de procedimentos como fluidoterapia e para o entendimento da fisiopatologia de algumas doenças que levem ao acúmulo de fluidos em determinados compartimentos. Venha participar de nosso curso de “Procedimentos Ambulatoriais” (saiba mais aqui) e colocar isso em prática, além de desenvolver outras habilidades!! 

Então é isso, compartilhe esse artigo com seus amigos e colegas, comente e deixe sugestões do que você gostaria que abordássemos ;).  

   

Surgery4Vets  

“Você no Centro” 

 

 

 

Referências 

– BYERS, C.G. Fluid TherapyOptions and Rational SelectionVet Clin Small Anim, p. 1 – 13, 2016. 

– WELLMAN, M.L.; DIBARTOLA, S.P. & KOHN, C.W. Applied Physiology of Body Fluids in Dogs and Cats. In: DIBARTOLA, S.P. FluidElectrolyteand Acid-Base Disorders in Small Animal Practice, 3 ed, Saunders: Elsevier, p. 3 – 25, 2006. 

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